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PEQUENAS PROPRIEDADES, GRANDES MULHERES


Pequenas propriedades, mulheres ativas e fundamentais para o negócio. Na agricultura familiar – preponderante no Paraná – o trabalho delas é chave para a evolução no faturamento, atentas à gestão, novas ideias e, claro, em sintonia fina com os maridos, o que auxilia inclusive numa sucessão familiar mais natural e sem traumas. Na Comunidade Rural do Ceboleiro, em Rolândia, a reportagem da FOLHA encontrou produtoras rurais com histórias incríveis, que caminham lado a lado com os esposos e, assim, se mostram essenciais para o negócio, como aponta a pesquisa divulgada pela ABMRA. 

Janete Caldeira do Nascimento Koch é uma delas. Nascida e criada no campo, quando morava com seus pais realizava mais trabalhos domésticos e estudava. Ao casar-se com Werner Anderson Koch, há 16 anos, percebeu que sua atitude dentro da propriedade rural deveria mudar: seu protagonismo era fundamental. Junto com o marido, buscou capacitação e juntos realizaram diversos cursos, como empreendedorismo rural, processamento de hortaliças, panificação e cultivo de eucalipto, por exemplo. 

Ela explica que nunca teve vontade de sair do campo e por isso a família Koch não titubeou em desenvolver projetos para melhorar a renda da família. "Queremos tirar nosso sustento da propriedade e ter bons ganhos. Fomos nos aperfeiçoando, fizemos cursos pelo Senar, participamos de eventos e buscamos novas tecnologias", cita ela. 

Na propriedade de sete alqueires, o trabalho hoje é focado nas hortaliças, aproximadamente 200 quilos por mês, plantio de morango, eucalipto e a agroindústria de panificação, com uma média de 300 quilos mensais. Os produtos em sua grande maioria são vendidos para as escolas, por meio dos programas governamentais voltados ao pequeno produtor. "Boa parte dos trabalhos faço em conjunto com meu marido, mas no caso da panificação tomo mais a frente. O interessante que essa movimentação animou inclusive minha sogra para participar, ela tem 76 anos, e agora também faz seus panificados", conta Janete. 

Aliás, a agroindústria é um dos pontos altos da propriedade. Com financiamento do Pronaf, Janete captou R$ 10 mil para iniciar os trabalhos. Já a comercialização com as escolas a família faz desde 2009. "Hoje existe inclusive o Pronaf mulher", ressalta ela. 

Em relação aos desafios do futuro, ela cita uma maior eficiência no controle de gestão e também a diversificação da propriedade. "Estamos atentos ao que o mercado está pedindo. Nos orgânicos, por exemplo, estamos trabalhando pela certificação, além de aproveitar ao máximo o que a propriedade oferece. Não podemos apenas vender o morango, precisamos processá-lo, faço geleia e vendo polpa. Também penso na sucessão familiar, temos nosso filho Gabriel, de 5 anos, e precisamos mostrar a ele que é possível viver bem na propriedade rural nos dias de hoje." 

Maria Aparecida Lucca, de 60 anos, também mora no Ceboleiro e na propriedade de 1,2 alqueire trabalha com horta orgânica, alguns animais como galinhas e porcos, mandioca, milho e umas cabeças de vaca. O cerne do trabalho fica com a comercialização da horta orgânica pelo PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), com um volume que varia de 100 a 200 quilos mensais. "Quando mudamos para a propriedade, há oito anos, eu e meu esposo colocamos na cabeça que nos sustentaríamos com o que é produzido aqui. Por isso tivemos que correr atrás dessas alternativas." 

Segunda Maria, ela fica responsável em comprar as mudas das hortaliças, corre atrás dos contratos do PNAE e ainda participa das reuniões junto ao Instituto Emater para pensar quais as melhores estratégias para o trabalho. "Nesta semana fui inclusive em Londrina para fazer minha inscrição para participar da feira orgânica. Vivi muitos anos da panificação na cidade e agora trabalhamos muito no campo (para ter qualidade de vida). Estamos aposentados e um sonho que tenho ainda é ter um restaurante rural aqui, para trabalharmos nos fins de semana." 

De donas de casa a agricultoras 

Maria Isabel Zambrin Henrique é assistente social do Instituto Emater em Rolândia há quase 20 anos. Ela comenta que houve uma evolução significativa na participação das mulheres na região, inclusive com reuniões de trabalho bem sistematizadas. "As mulheres no passado eram mais alheias à gestão da propriedade e hoje estão mais participativas com os maridos nas decisões, graças também a vários parceiros que a Emater possui na área rural. É interessante quando perguntado qual a profissão delas, no passado elas se denominavam 'do lar' e agora se intitulam agricultoras." 

Na região de Rolândia, a grande maioria das mulheres estão atuando com maridos e companheiros, mas existem casos daquelas que tomaram a frente do negócio. "Muitas têm negócios dentro da propriedade que são de responsabilidade completamente delas, como morangos suspensos, horta para a merenda escolar, entre outros." 

No grupo na cidade, muitas estão juntas para trabalhar com PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e, no momento, foco no PNAE. "Nesta nova etapa são 22 mulheres que atuarão com a merenda escolar. Fazemos todo o processo: desde o aconselhamento familiar, as reuniões e fortalecimento das produtoras para que elas assumam de fato o trabalho dentro da propriedade. Também há outro grupo de 13 mulheres com foco na agroindústria."

Site:https://www.folhadelondrina.com.br/folha-rural/pequenas-propriedades-grandes-mulheres-999488.html
 Reportagem de 03/02/2018

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