Cerca de 100 trabalhadores do campo e da cidade se uniram em um mutirão para colher 4.200 quilos de feijão orgânico, neste domingo (10), no assentamento Contestado, na Lapa, município no Paraná. A ação é organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da região Sul do Paraná e pelo coletivo Marmitas da Terra - formado por mais de 120 voluntários de Curitiba e região.
Em 2020, o preço do feijão teve aumento médio de 45,39% na região metropolitana de Curitiba, de acordo com pesquisa divulgada em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vendas do grão caíram cerca de 35%. A estiagem e a falta de políticas públicas do governo Bolsonaro em apoio à produção de alimentos estão entre os principais fatores para o alimento custar de R$ 6 a R$ 9 nas gôndolas dos supermercados.
A várias mãos e sem agrotóxicos
A forma da produção e a destinação do alimento transformou o que poderia ter sido uma simples colheita em um dia para renovar as esperanças. Localizada em uma área cedida por famílias camponesas da comunidade, a lavoura foi plantada e cuidada a várias mãos, sem uso de agrotóxicos e a partir de mutirões com pessoas voluntárias vindas da cidade e moradores locais. O alimento colhido será partilhado com famílias em situação de vulnerabilidade e com três cozinhas comunitárias da capital.
“Só nos resta agradecer a esse coletivo por somar com a gente nestes 90 dias de trabalho, desde o plantio do feijão até o dia da colheita. Pra nós, não é simplesmente uma colheita, tem um significado muito maior, porque esse alimento é para a partilha”, garantiu Liana Franco, produtora agroecológica do assentamento Contestado e da coordenação estadual do MST, ao agradecer ao grupo de pessoas voluntárias deste domingo.
“Sem emprego e sem moradia, a gente sabe que fica muito difícil de viver”, reforçou, ao se referir à situação em que vive parcela da população. A estimativa é de que a pobreza extrema (pessoas que vivem com US$ 1,90 por dia) deve chegar a algo entre 10% e 15% da população brasileira (27,4 milhões de pessoas) neste mês de janeiro, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Mutirão de solidariedade
O trabalho começou bem cedo, logo que o sol se levantou, e seguiu até o anoitecer. Camponeses acampados, assentados, estudantes, professores, advogadas, jornalistas, servidores públicos. Pessoas com diferentes idades e experiências no trabalho da roça se ajudaram nas tarefas de arrancar os pés de feijão, bater, carregar as sacas e espalhar no local para a secagem.
Marcos Antonio Pereira, integrante da coordenação do coletivo Marmitas da Terra e do MST do Paraná, avalia que a colheita ganhou sentido ainda mais forte pela diversidade de pessoas unidas na ação. “É simbólico no sentido das pessoas entenderem todo o ciclo da lavoura, acompanhar o plantio, o manejo, e agora a colheita sabendo que ela vai ter uma destinação como parte das ações de solidariedade do MST aqui no Paraná”, avalia.
Para parte do grupo do mutirão, a lida na terra é parte da luta pela Reforma Agrária e por alimentos saudáveis. Participaram integrantes dos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro; do acampamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa; do acampamento Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas; e do próprio assentamento Contestado.
De Curitiba e região metropolitana, vieram pessoas voluntárias da ação Marmitas da Terra, que já haviam trabalhado em mutirões para cuidar da lavoura de aproximadamente 2 alqueires. Entre o grupo de voluntários urbanos, boa parte nasceu e cresceu na cidade, tem pouca experiência na lida com a terra, mas muita disposição para o trabalho e vontade de ajudar a mudar a situação de fome enfrentada por milhões de brasileiros.
É o caso de Bárbara Górski Estech, advogada e integrante do Movimento de Assessoria Jurídica Universitária Popular Isabel da Silva (Majup) da Universidade Federal do Paraná. “Fui muito bem recebida, todas as pessoas que estavam junto me ensinaram em todos os momentos. Eu consegui participar efetivamente dessa colheita que é muito importante, por ser a primeira do ano e, principalmente, é especial por ser neste momento de pandemia”, afirmou.
Do povo para o povo
Depois de colhido, o feijão segue em espaços de trabalho coletivos para virar refeições em três cozinhas comunitárias: cozinha Marmitas da Terra, organizada pelo próprio MST; cozinha da União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), localizada no Bolsão Formosa; e cozinha organizada pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), no Sindicato dos Trabalhadores dos Correios. Parte dos grãos também vai integrar as doações de alimentos feitas pelo MST na capital e região, previstas para fevereiro.
Edição: Camila Maciel e Lia Bianchini
Matéria na íntegra disponível em https://www.brasildefato.com.br/2021/01/12/lavoura-coletiva-do-mst-gera-4-mil-quilos-de-feijao-organico-para-doacao-no-parana.
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