Abrigados pela Assistência Social local, indígenas dizem que lutarão pelo território - Foto: Giorgia Prates
Área no município de Rio Negro estava ocupada por 18 indígenas há cerca de um mês
Isadora Stentzler – Brasil de Fato
Um grupo de 18 indígenas dos povos kaingang e xokleng foi expulso de uma ocupação sob fortes ameaças na noite de quinta-feira, 15, em um território no município de Rio Negro, a 100 quilômetros de Curitiba. O local estava ocupado há pouco mais de um mês e, segundo os indígenas, faz parte de uma área ancestral. Abrigados pela Assistência Social do município, eles aguardam a Fundação Nacional do Índio (Funai) e dizem que resistirão para permanecer no local.
“Entraram umas sete pessoas armadas, fora os que estavam nos carros. Entraram pra dentro do terreno e falaram que nós tínhamos que sair e que se nós não saíssemos iam nos queimar com as crianças”, disse um dos indígenas da ocupação, que pediu para não ser identificado por medo de represálias.
“Não tivemos o que fazer a não ser pegar nossas crianças e simplesmente ficar de canto, protegendo eles, enquanto eles derrubavam nossas barracas, queimando comida, roupas, lonas. Foi muito triste o que fizeram”.
A ação começou por volta das 20h20 da quinta-feira. Em um vídeo gravado durante a ação, e que os indígenas falam em português e na língua kaingang, eles questionam às pessoas se possuíam algum mandato para retirá-los do local e o porquê estavam realizando a ação à noite.
É possível também ouvir uma mulher, dizendo que uma outra mulher, que seria dona do espaço, autorizou-os a permanecer em uma parte do local.
Às 2h da madrugada desta sexta-feira, 16, o grupo de indígenas foi acolhido pela Assistência Social da prefeitura do município, que os alojou em um abrigo.
Ainda nesta sexta-feira, o grupo fez contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e aguarda realocação.
“Agora pretendemos ficar por aqui mesmo. Vamos reivindicar. Vamos entrar de novo no terreno. A Funai disse que irá falar com a prefeitura. Não vamos sair, não vamos embora. Se nós não lutar, não vamos conseguir”, frisou.
Ocupação
O grupo de indígenas veio do Rio Grande do Sul e ficou na região da Aldeia Condá, em Chapecó, Santa Catarina. Eles estavam em busca dos caminhos ancestrais e miravam o município de Rio Negro porque, segundo eles, pertencia aos antepassados.
O grupo ocupou a área às margens da Rua Maxímiano Pfeffer, no município paranaense, onde esperavam outras quatro famílias. Os indígenas apontam que no local há vegetação nativa e montaram suas barracas, começando a vender artesanato.
Desde que ocuparam a área, alegam que foram ameaçados. O local seria de uma empresa de Curitiba, que não foi identificada pelos indígenas. Com medo, eles buscaram apoio junto à prefeitura local, que não deu suporte no momento.
Um segurança, mandado por esta empresa, é quem fazia a ponte entre os indígenas e os possíveis donos da área.
“Segundo o relato da prefeitura, os donos pagam impostos, mas os donos não conseguem implantar nada porque a prefeitura não deixa, por ser floresta ambiental. O segurança disse também que iria acontecer alguma coisa se nós não saíssemos”, conta.
Na quarta-feira, dia 15, um grupo de pessoas foi até o local e começou a construir uma cerca em volta de onde os indígenas estavam acampados. O indígena que falou com a reportagem disse que pediu para que deixassem um portão, para entrada e saída do grupo, mas o objetivo era trancá-los no local.
Com o ataque da noite de quinta-feira, os indígenas perderam parte dos seus bens e aguardam que a Funai e a prefeitura tomem alguma providência.
Eles reforçam que lutarão pela conquista do território e que querem permanecer no local.
A reportagem procurou a Prefeitura de Rio Negro e a Funai, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. O espaço continua aberto para posicionamento oficial.
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Fonte: Brasil de Fato
Edição: Lia Bianchini
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