NO OESTE DO PARANÁ, POVO GUARANI MBYA FECHA PONTE REIVINDICANDO DEMARCAÇÃO E MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA
Crédito da Foto: Luís Fernando Jacques/Brasil de Fato-PR |
Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação - Cimi
As consequências da falta de demarcações de terras indígenas no Oeste do
Paraná encontram similaridades com o vivido pelos povos do Mato Grosso do Sul.
Sem terra, em acampamentos pauperizados, indígenas Guarani Mbya estão expostos
não apenas a ataques de pistoleiros, mas a situações de fome, falta de água
potável e suicídios.
Mesmo com todas as dificuldades, seguem resilientes e no início desta
semana trancaram a ponte Ayrton Senna, que liga Guaíra (PR) ao município de
Mundo Novo (MS). O protesto teve como principal ponto de pauta a demarcação das
terras indígenas dos Guarani Mbya no Oeste do Paraná.
"Temos acampamentos com os parentes vivendo num espaço pequeno
entre a fazenda e a estrada. Vivendo num lamaçal, passando fome e frio",
explica o cacique Anatalio Guarani Mbya. O indígena revela que os órgãos
públicos constantemente afirmam que eles são, na verdade, índios paraguaios.
Cacique Anatalio lembra que os Guarani Mbya sempre ocuparam todo o Sul
do país e da América Latina - mesmo com a colonização intermitente. A
construção da UHE de Itaipú inundou ao menos uma dezena de aldeias, dispersando
ainda mais as famílias. "Então temos parentes, família mesmo, no Paraguai,
na Argentina e no Brasil. Não existe Guarani Mbya paraguaio, existe o povo
Guarani Mbya".
O líder indígena ressalta que os Guarani Mbya não possuem acesso a
saneamento básico, cestas básicas (uma vez estão sem terras para plantar),
água, saúde, a educação é precária e sem investimentos, além de faltar professores
e agentes de saúde. "Temos muitas crianças doentes", diz o cacique.
No trancamento da ponte, ao menos 500 Guarani Mbya estavam presentes.
"A gente vê o que tá acontecendo e pensa: governo quer matar todos os
povos indígenas. Acho que eles estão tentando faz tempo. Destruíram nosso mundo
já, mas seguimos aqui vivos", diz o cacique Anatalio.
Conforme noticiou o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), "a ponte foi liberada por volta do meio dia após
negociações com a presença dos prefeitos Heraldo Trento (DEM-PR) e Altair de
Padua (PSC) de Guaíra e Terra Roxa, respectivamente. As autoridades assinaram
um documento se comprometendo a negociar as reivindicações com as lideranças
indígenas".
Frente anti-indígena
A Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip) e
Sindicatos Rurais encabeçam uma forte campanha difamatória com incitação
pública, com moradores de Guaíra e Terra Roxa incentivados abertamente a tomar
partido na luta contra os povos indígenas.
Faixas foram estendidas pelas praças e principais ruas da cidade com
dizeres como "invasão indígena não combina com ordem e progresso" e
"o Brasil que produz merece respeito". Um panfleto de caráter racista
intitulado "A Verdade", financiado a partir de recursos privados dos
vereadores da cidade de Guaíra, foi amplamente distribuído.
Pelas cidades do Oeste do Paraná não é difícil encontrar automóveis com
adesivos: "Minha Terra, Minha vida: PR e MS contra a demarcação das terras
indígenas". Em Guaíra, no ano passado, um acampamento Guarani Mbyá, nas
imediações do centro da cidade, sofreu ataque a tiros.
Políticos até mesmo do PT, partido com correntes de apoio aos povos
indígenas, estão envolvidos em ataques aos Guarani Mbya na região, caso da
senadora Gleisi Hoffmann, que quando ministra da Casa Civil declarou não
existir índios no Paraná, e do ex-prefeito de Guaíra, Fabian Vendrusculo, que
certa vez decretou feriado para protestos contra as demarcações.
Em Guaíra, conforme o Setor de Documentação de Terras Indígenas do Cimi,
são sete territórios tradicionais a serem identificados pela Funai e um sem
quaisquer providências. Já em Terra Roxa, são cinco territórios em processo de
identificação. São cerca de 5 mil Guarani Mbya em busca das terras que sempre
lhes pertenceu.
Publicado originalmente em: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=9198#