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No Paraná, acampamento do MST erradica analfabetismo com o “Sim, eu posso!”

A comunidade fica em Centenário do Sul, norte do estado, onde o índice de analfabetismo chegava a 19% em 2010

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Acampamento Fidel Castro, no município de Centenário do Sul, onde vivem os formandos. Ali, 400 famílias enfrentam há 9 anos a luta contra o agronegócio da cana-de-açúcar. Foto: Arquivo MST

Por Igor de Nadai* da Página do MST


Neste caloroso sábado (9), típico do Norte do Paraná, moradores do campo e da cidades, junto de 24 educandos e 10 educadores e educadoras, comemoraram a formatura de quatro turmas de alfabetização baseadas no método cubano “Yo, si Puedo!”, o “Sim, eu posso!”, na versão brasileira.
A festa ocorreu no acampamento Fidel Castro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no município de Centenário do Sul, onde vivem os formandos. Ali, 400 famílias enfrentam há 9 anos a luta contra o agronegócio da cana-de-açúcar.

Como é sabido, esse modelo é gerador de diversas mazelas ambientais, econômicas e sociais para a sociedade, entre elas a reprodução de uma das mais cruéis chagas do capitalismo: o analfabetismo e a ignorância. Segundo o último Censo, realizado pelo IBGE em 2010, havia 2.109 analfabetos na cidade, cerca de 19% da população com mais de 15 anos.


Um batalha contra o analfabetismo

“As massas fizeram essa sua luta. Só assim foi possível ganhar essa batalha”. Assim descreve Fidel Castro acerca da tarefa de erradicar o analfabetismo em Cuba: uma batalha! Batalha, pois exige o compromisso de todo o povo, enfrentando séculos de ignorância e exclusão, contra a vontade dos latifundiários e dos poderosos.


Maikon Veirick, jovem coordenador do programa no acampamento, conta que para implementar o projeto foi feito um amplo debate e consulta em toda a comunidade. A intenção era levantar o número de analfabetos e saber se a comunidade topava o desafio de enfrentar essa grande batalha contra o analfabetismo.

A partir disso, juntamente com o setor de educação do MST, foi iniciada a proposta com a organização de quatro turmas com 10 educadores e educadoras da própria comunidade. Para Fernando Herdt, do setor de educação do MST, esses fatores foram decisivos para o sucesso do projeto: “A comunidade toda envolvida e os educadores conhecerem profundamente a realidade local são fatores que contribuíram muito para a baixíssima taxa de desistência e eficácia do método”.

Beatriz, de 40 anos, é uma das educadora que vive na comunidade. Ela explica como foram as aulas para que os educandos não desanimassem: “Além de sentirem progresso na leitura de números e códigos, as aulas devem ser momentos sempre muito acolhedores, pois a realidade já diz “não!” diariamente para esses sujeitos, marcados pela exclusão e desumanização”.


Tempo de aprender e ensinar
“Sempre é tempo de aprender, sempre é tempo de ensinar!”. Essa foi a palavra de ordem escolhida pelas turmas do programa no acampamento, que simboliza bem o sentimento de dona Matilde, de 64 anos, acampada na luta pela terra há 4 anos.
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Trabalhadora doméstica desde muito cedo nas cidades do Paraná, só estudou durante um ano, e, nesse período, só pôde aprender algumas letras. “Agora posso ler, e não preciso mais ficar soletrando. Minha autoestima aumentou muito, sabe? Eu e meu marido viajamos muito e eu não conseguia ler as placas, então não sabia por onde eu estava passando. Agora eu sei, tenho confiança e sei pra onde estou indo”. Foto: Arquivo MST

Vem de longe e vai continuar
O Método de alfabetização “Sim, eu posso!” foi elaborado em Cuba. Por meio das brigadas de alfabetização “Pátria ou Morte” e "Conrado Benítez", foi uma das principais ferramentas na superação do analfabetismo naquele país, que ainda no início da década de 1960 já declarava-se território livre do analfabetismo.
Traduzido em mais de 30 línguas estrangeiras, o método se irradiou por todo o mundo devido a sua eficácia e rapidez. Neste mesmo sentido, recentemente, Bolívia e Venezuela foram reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como países que superaram o analfabetismo, utilizando o método cubano.
“Fidel foi um batalhador, da classe pobre, né?”. É assim que dona Matilde nos conta sobre Fidel e sua ligação com o acampamento. Para propiciar que, além do alfabeto, os educandos conhecessem e refletissem sobre a realidade que vivem, histórias sobre Cuba e sobre a Revolução foram trabalhadas nas aulas, proporcionando assim um avanço na compreensão do por que a comunidade homenageou o acampamento com o nome de Fidel.
Um feliz encontro com a História , um encontro de um povo que segue o legado humanizador da revolução cubana e, que assim, dá um largo passo na libertação de sua gente. As turmas não param por aí. Elas se ampliarão e ingressarão no edital do “Paraná alfabetizado”, que constitui-se na continuidade da alfabetização utilizando a proposta dos círculos de cultura, elaboradas por Paulo Freire.
*Igor de Nadai é educador e integrante do Coletivo de Juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná

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