Entre
os dias 20 e 23 setembro ocorreu a 16ª Jornada de Agroecologia no município da
Lapa/PR. Estiveram presentes agricultores, estudantes, militantes de movimentos
sociais, entre outros apoiadores das experiências agroecológicas, bem como,
participantes do Brasil e de outros países; contabilizando aproximadamente 2000
pessoas.
De
acordo com a Carta Política da 16ª Jornada de Agroecologia, ela é um importante
espaço “de contínua troca de experiências e de (re)construção do saber/fazer/sentir
camponês”, além de constituir um dos principais eventos de incentivo a
soberania alimentar e agroecologia do Brasil.
As
atividades destes quatro dias incluíram debates sobre sementes crioulas,
economia solidária, educação do campo, dentre outros temas inerentes à prática
de produção de alimentos saudáveis. Na quinta-feira, o dia todo foi voltado ao
intercâmbio e às oficinas nas comunidades da região, conhecidas pelas
experiências na agroecologia. Ao longo dos quatro dias, houve feiras expondo a
produção agroecológica e artesanato. Todas
as noites havia programação de atividades culturais, quais movimentavam o
evento, bem como, na sexta, o destaque foi o bailão camponês.
Em
homenagem ao companheiro Valmir Mota (Keno), assassinado pelas milícias da
transnacional suíça Syngenta em 2007, o tema desta Jornada é “Keno Vive! E a
Luta Segue!”. Em novembro de 2015 a empresa Syngenta Seeds foi condenada pela
morte de Keno e também pela tentativa de assassinato de Isabel do Nascimento de
Souza. Além disso, o juiz Ivo Moreiro determinou que a Syngenta devesse pagar
uma indenização para as famílias, pelos danos morais e materiais que causou. Além disso, outro segmento fundamental da 16ª
Jornada é o lema “Terra livre de transgênicos e sem agrotóxicos. Cuidando da
terra, cultivando biodiversidade, colhendo soberania alimentar. Construindo um
projeto popular e soberano para agricultura”.
A
16ª Jornada de Agroecologia ocorreu em 2017 em meio a décadas de retrocessos
aos direitos sociais do povo brasileiro e, portanto, como símbolo de resistência
ao agronegócio, bem como, enfatiza sua Carta Política:
denunciamos os desmontes do Estado brasileiro, a concentração da riqueza
e a expropriação de nossas terras pelo latifúndio e pelo agronegócio dominado
pelos transgênicos e agrotóxicos e suas transnacionais. Anunciamos e defendemos
permanentemente um modelo de agricultura agroecológica que traz as bases reais
para o projeto popular e soberano do povo brasileiro. A agroecologia é caminho
possível de desenvolvimento nacional que alimenta os trabalhadores e
trabalhadoras da cidade e do campo com comida de verdade e respeita a nossa
imensa biodiversidade e cultura.
Assim, realizar a
Jornada significa dar ao agricultor ecológico ânimo ante a situação caótica em
que país se encontra.
Entretanto,
apesar deste cenário de inúmeros desmontes de políticas sociais na conjuntura
agrária e urbana, os agricultores agroecológicos, guardiãs e guardiões das
sementes realizaram a 16ª Jornada buscando a articulação dos movimentos da
cidade e do campo, na esperança da construção de um espaço de troca de
conhecimentos e também de resistência e luta.
Em
entrevista para o Brasil de Fato, Roberto Baggio, coordenador do MST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra) destaca a grande importância da Jornada
Agroecológica para os agricultores que atuam para garantir alimentos livres de
veneno e transgênicos. Para Baggio, “a jornada é uma grande atividade
formativa, de estudo, de análise, de troca de experiência, de aprendizado, de
convívio, de partilha de semente, de partilha de receita e que vai construindo
este grande movimento que é o movimento pela agroecologia”.
Todo
ano a Jornada conta com a partilha de sementes crioulas que são trazidas pelos
participantes como forma de ingresso no evento.
Neste ano não foi diferente! A jornada conseguiu arrecadar cerca de
5.000kg de diversas variedades que foram partilhadas entre os participantes no
último dia.
A
troca de sementes crioulas entre os agroecologistas é um ponto importante do
evento, pois evidencia a autonomia da agricultura familiar camponesa frente o
avanço do capital no campo. Conhecidos como “guardiões e guardiãs das sementes”
estes agricultores são responsáveis pela agrobiodiversidade, bem como, pelo
manejo ecológico dos solos. O trabalho de resgate e multiplicação de sementes por
estes sujeitos é a garantia da imensa variedade de sementes crioulas de
diversas espécies e, portanto, a necessidade da divisão entre outros
agricultores para que esta não se perca.
Momento da partilha de mudas e sementes, que
acontece sempre no último dia da Jornada de Agroecologia.
AUTOR: Joka Madruga/
Brasil de Fato.
Entre
os guardiões e guardiãs das sementes estava presente a agricultora
agroecológica Teresinha dos Santos que representa o Projeto Feira Agroecológica
da Unicentro/Irati. Esta relatou ser uma experiência muito rica em conhecimentos,
além de servir como incentivo para fortalecer e partilhar experiências
camponesas e agroecológicas.
A
carta política da 16ª. Jornada de Agroecologia termina com uma homenagem ao
Keno, cujo exemplo fortalece a luta pela resistência e pela soberania alimentar
em tempos tão turbulentos que vivemos na atualidade: Keno tombou, mas enraizou. Sua semente germinou, brotou e permanece
dando frutos. Keno está vivo entre nós, cuja história inspira força para a
construção da sociedade que queremos.
Caroline
Cordeiro Santos, Coletivo do Projeto Feira Agroecológica (UNICENTRO/Irati)
REFERÊNCIAS