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Após 30 anos de promulgação da Constituição, comunidade Avá-Guarani pode sofrer despejo a qualquer momento a pedido da Itaipu

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região ignorou o direito Constitucional sobre o pertencimento das terras tradicionais aos povos indígenas e assinou, nesta sexta-feira, dia 5 de outubro, a determinação para retirada das famílias Avá-Guarani que retomaram a terra registrada em nome da Binacional; Tekoha Curva Guarani. A decisão do TRF4 – assinada pelo desembargador Luis Alberto Azevedo Aurvalle -, remete à solicitação da Itaipu Binacional. A terra está localizada no município de Santa Helena (PR), na margem do reservatório.
Apesar de o Artigo 231 garantir aos povos indígenas o direito sobre as terras que tradicionalmente ocupam, cerca de 60 indígenas podem ficar sem terra e sem ter para onde ir, o que inclui crianças, idosos e um recém-nascido com apenas três dias de vida. A data da decisão é emblemática, 5 de outubro, já que marca os 30 anos de promulgação da Constituição Federal de 1988, conhecida também como Constituição do Índio.
O Cacique Lino Cesar Cunumi Pereira, liderança indígena Avá Guarani do Tekoha Curva Guarani, no município de Santa Helena, região Oeste do Paraná, escreveu uma carta pedindo a suspensão da reintegração de posse contra o Tekoha. A carta reivindica a permanência dos povos indígenas até que seja concluída a identificação e a delimitação das áreas, realizadas pelo Grupo Técnico (GT) nomeado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio da Portaria n° 1.118 de agosto de 2018. O documento endereçada ao Juiz Federal, Luís Alberto d’Azevedo Aurvalle, e a Itaipu Binacional, foi entregue à Defensoria Pública da União (DPU) e aos apoiadores da causa indígena.
“Apesar de o Artigo 231 garantir aos povos indígenas o direito sobre as terras que tradicionalmente ocupam, cerca de 60 indígenas podem ficar sem terra e sem ter para onde ir, o que inclui crianças, idosos e um recém-nascido com apenas três dias de vida”.
Equipe Paraná, Cimi Sul
Comunidade indígena Avá-Guarani do Tekoha Curva Guarani, no município de Santa Helena. Foto: Equipe Paraná, Cimi Sul
A liderança indígena, que é réu no processo movido pela Itaipu, demonstra preocupação com a situação das famílias indígenas que não têm para onde ir. “Estamos muito magoados porque a Itaipu Binacional não quer conversa. Hoje, nossa preocupação maior é com a mãe Lenilda Martins que está com recém-nascido de três dias nos braços, tanto ela quanto a criança correm risco de morte”, lamenta o indígena. “Quando ela soube da decisão de despejo, passou mal, sangrou muito e quase enfartou. Além disso, idosos e crianças das comunidades querem muito ficar. Tenho fé e esperança que nossa permanência pode acontecer, pois recebemos manifestações de todo o país em nosso favor”, ressaltou.
O Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Sul, que acompanha a situação das famílias indígenas, esclarece que o cenário é extremamente delicado e preocupante, pois além da Tekoha Curva Guarani, a Itaipu Binacional entrou com ações contra os Tekoha Mokoi Joegua e Pyau, município de Santa Helena e contra o Tekoha Yva Renda município de Itaipulândia. A expectativa é que o GT da Funai realize os estudos de natureza etno-histórica, antropológica, ambiental e cartográfica necessários na região, mas para isso, é necessário que seja suspensa temporariamente a reintegração de posse requerido pela Itaipu.
“A expectativa é que o GT da Funai realize os estudos de natureza etno-histórica, antropológica, ambiental e cartográfica necessários na região, mas para isso, é necessário que seja suspensa temporariamente a reintegração de posse requerido pela Itaipu”.
Além do acompanhamento do Cimi Sul, no dia 25 de setembro, o Observatório da Temática Indígena da América Latina (OBIAL), no âmbito do Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), manifestou preocupação às ações de reintegração de posse.
Saiba mais sobre o caso:
A reintegração de posse remete à alegação de que a ocupação indígena está em área de preservação ambiental. No julgamento em primeira estância, o juiz Sergio Luís Ruivo Marques concedeu a liminar que autoriza a retirada dos indígenas. A Defensoria Pública da União (DPU) entrou com um agravo de instrumento no Tribunal Regional da 4ª Região em Porto Alegre pedindo a antecipação da tutela recursal para impedir a reintegração de posse.
Foto: Equipe Paraná, Cimi Sul
Foto: Equipe Paraná, Cimi Sul
No dia 03 de outubro, o desembargador Luis Alberto d’Azevedo Aurvalle, indeferiu a antecipação da tutela recursal, justificando que “a providência, embora tente buscar uma solução menos traumática para o litígio, pode servir de estímulo a novas invasões”.
A região onde se localiza o Tekoha Curva Guarani é de ocupação tradicional do povo Avá-Guarani. A Funai, por meio da Portaria n° 1.118 de agosto de 2018, criou o GT para identificação e delimitação das áreas reivindicadas pelo povo Avá-Guarani. O GT foi constituído em atendimento à decisão judicial do dia 14/11/2017, exarada na Ação Civil Pública nº 5006284 37.2017.4.04.7002/PR.
Clique aqui e confira o despacho/decisão do TRF4.
Clique aqui e confira a carta da Liderança indígena Avá-Guarani.

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Um esforço coletivo do Observatório da Questão Agrária no Paraná junto a movimentos sociais e povos e comunidades que mostram a diversidade das relações, práticas e dos conflitos pela terra e território paranaenses.   Convidamos a todxs a se apropriar dessa leitura ampla e crítica sobre o campo no estado e esperamos que o Atlas seja objeto de leitura e divulgação, de uso como material didático e de formação, e acima de tudo que possa contribuir ao debate sobre o Paraná que temos e o que queremos.   Logo abaixo você pode clicar na imagem e Baixar o documento para ter acesso ao Atlas e desfrutar da leitura:  

NOTA DE REPÚDIO

A Rede de Pesquisadores sobre a Questão Agrária no Paraná, integrada por pesquisadores de oito universidades públicas do estado, vem a público manifestar preocupação em face do cerceamento do exercício profissional da Geógrafa e pesquisadora Márcia Yukari Mizusaki, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) por meio de ameaças motivadas pelo trabalho realizado junto às comunidades indígenas   do Município de Dourados, no Mato Grosso do Sul. À preocupação com esse que poderia ser um ato isolado, perpetrado por indivíduos que sentem-se à vontade para atentar contra os Direitos Constitucionais da servidora e dos indígenas, soma-se o repúdio à semelhante conduta do Jornal Diário MS, veículo de imprensa investido da tarefa pública de informação graças à concessão de que desfruta. A materia "Índios ampliam invasões de propriedades em Dourados", assinada por Marcos Santos, publicada no dia 22 de agosto último, é um exercício explícito de incitação à intolerância étnica