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1ª. FEIRA SABERES E SABORES

A 1ª. Feira saberes e sabores de Francisco Beltrão (PR) aconteceu na Praça da Matriz, nesta cidade, no dia 5 de julho de 2014. Foi organizada pelo Coletivo de Mulheres Agricultoras de Francisco Beltrão em parceria com a Prefeitura Municipal de Francisco Beltrão (Secretaria de Desenvolvimento Rural), com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR - FB), com representantes do Bairro Padre Ulrico e com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Grupo de Estudos Territoriais (UNIOESTE/GETERR). O objetivo principal foi divulgar a produção de alimentos das famílias, especialmente a partir da participação das mulheres, valorizando-se, como o próprio nome da feira indica, os saberes e sabores gerados no município.
Na feira, notamos a participação efetiva das mulheres e dos homens (com alguns jovens – no total, participaram 23 famílias) mobilizados a partir das discussões feitas no Coletivo de Mulheres e em virtude do planejamento resultante da decisão de realização da feira envolvendo, também, algumas famílias (3) do Bairro Padre Ulrico – Francisco Beltrão. Aos poucos, a circulação das pessoas foi aumentando no local, especialmente em virtude da divulgação feita por meio da mídia escrita e falada, com destaque para a Rádio Comunitária Anawin. Acreditamos, também, que tal fato ocorreu em virtude da quantidade de produtos que estavam sendo vendidos pelas famílias, tais como frutas, verduras, plantas medicinais, pães, cucas, bolachas, tapetes, mandioca, pinhão etc.  

Também foi possível perceber algumas relações de cooperação e solidariedade entre as pessoas que participavam da feira, resultantes de uma cultura camponesa (THOMPSON, 1998) que é, historicamente, reproduzida em meio a uma miríade de outros comportamentos e valoresdifundidos principalmente pelas forças do capital. Na praça, parecia haver um campo de poder (RAFFESTIN, 1993 [1980]) efetivado por meio de uma apropriação territorial temporária – na praça, porém, importante para socializar pelo menos parte da diversidade de alimentos produzidos no espaço agrário e das plantas medicinais cultivadas na cidade Francisco Beltrão. Identificamos sinais muito claros da reprodução de aspectos da cultura camponesa no espaço urbano, a partir das atividades que realizamos neste ano com algumas famílias do Bairro Padre Ulrico, das pesquisas e atividades que efetivamos no Projeto Vida no Bairro (2003-2005) e 
dos ensinamentos de autores importantes, como Hobsbawm (1973): há uma disseminação da cultura camponesa, que não se restringe, portanto, ao espaço urbano ou ao agrário. Na cidade, há homens e mulheres que também reproduzem ações e pensamentos de origem camponesa A disseminação ocorre, principalmente, em virtude da constante mobilidade das pessoas que se reterritorializam tentando dar continuidade a algumas características da forma de vida que tinham onde viviam anteriormente. Há uma unidade dialética entre a cidade e o campo, o urbano e o rural, nos termos indicados por Lefebvre (1995 [1969]), fato e processo que nos remete a pensar no direito à cidade (LEFEBVRE, 1991) e, simultaneamente, no direito ao campo e no lugar da boa convivência (QUAINI, 2006; 2010; SAQUET, 2011). Ambos os espaços precisam ser compreendidos e trabalhados, em projetos de desenvolvimento territorial e em atividades como a da feira dos saberes e sabores, conjuntamente, sem separação: o direito à cidade passa, necessariamente, pelo direito ao campo (e vice-versa), pois há uma relação de unidade e complementar entre estes espaços, transformados em territórios e lugares de luta por uma vida mais qualificada política, cultural, econômica e ambientalmente. 

Referências: 
HOBSBAWM, E. J. Peasants and politics, The Journal of Peasant Studies, vol. 1, n. 1, 1973, p. 3-22. 
LEFEBVRE, Henri. Lógica formal. Lógica dialética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995 [1969]. 
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991. 
QUAINI, Massimo. L’ombra del paesaggio. Orizzonti di un’utopia conviviale. 
Reggio Emilia: Diabasis, 2006. 
QUAINI, Massimo. Dalla coscienza di classe alla “coscienza di luogo” ovvero “de la lutte des classes à la lutte des places”.Declinazioni del concetto di luogo e di paesaggio. Treviso, Fondazione Benetton,2010, p.1-13. 
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993 
[1980]. 
SAQUET, Marcos. Por uma geografia das territorialidades e das temporalidades: uma concepção multidimensional voltada para a cooperação e para o desenvolvimento territorial. São Paulo: Outras Expressões, 2011. 
THOMPSON, Edward. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

Marcos Aurelio Saquet
UNIOESTE – Grupo de Estudos Territoriais 
matéria publicada originalmente em 
http://questaoagrariapr.webs.com/




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