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INDÍGENAS DE GUAÍRA E TERRA ROXA PROTESTAM CONTRA A PEC-215

       No dia 15 de abril, cerca de 200 indígenas da etnia Avá-Guarani das aldeias de Guaíra e Terra Roxa, na região Oeste do Paraná, com apoio de alunos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), foram às ruas manifestar contra a PEC-215. Essa manifestação faz parte da Mobilização Nacional dos Povos Indígenas. O ato ocorreu na parte da manhã com saída da aldeia Tekohá Y´hovy, localizada no município de Guaíra, seguindo pela Avenida Mate Laranjeira até em frente à rodoviária da cidade. Houve um ritual, cantos e palavras de ordem, pedindo a demarcação de terras e contra a PEC-215. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a semana de Mobilização nacional Indígena acontece em todo o país para reivindicar contra a aprovação da PEC-215. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) transfere do governo federal para o Congresso a oficialização da demarcação de terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação.
  Paulina, vice-líder da Tekohá Y´hovy durante o ato manifestou: “Mesmo que essa PEC-215 seja aprovada, o povo Guarani de Guaíra não vai sair. Porque se os fazendeiros estão resistindo, o povo Guarani também vai resistir! Porque Guaíra sempre foi terra indígena, até o nome Guaíra é palavra Guarani”! Atualmente, há aproximadamente 350 famílias, cerca de 1.800 indígenas, distribuídos em oito aldeias em Guaíra e cinco em Terra Roxa. Desde o ano de 2012, os Guaranis tem se organizado para reivindicar a retomada de seus territórios com a demarcação de terras na região. A partir desta organização muitos conflitos vêm se acentuando entre os indígenas e os grandes proprietários de terra na região. Desde então aconteceram perseguições, estupros e assassinatos de indígenas. O discurso ideológico da mídia comprometido com a classe dominante tem inflado nos pequenos proprietários rurais, bem como, na população em geral o preconceito contra os indígenas afirmando que estes são invasores, paraguaios, contrabandistas etc., escondendo o processo histórico de ocupação do Oeste do Paraná. Neste cenário as crianças indígenas tem sofrido preconceito nas escolas e muitos índios perderam seus empregos devido a esses falsos discursos. Além das perseguições, a forma precária como os indígenas estão vivendo em suas aldeias e a ausência do Estado na garantia de direitos básicos é gritante.
     Acentuando este processo, em março de 2013 foi criada a Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (ONGDIP), organizada pelos ruralistas de Guaíra, sendo uma resposta as “invasões indígenas”. A ONGDIP mantém estreita relação com o Sindicato Rural de Guaíra e as Sociedades Rurais do Paraná, em especial a do Oeste (SRO). Desde sua origem, fazendeiros tem se organizado através de cartazes, manifestações e adesivos contra a demarcação de terras indígenas.
   Percebe-se que apesar de todas as dificuldades enfrentadas, os povos Guaranis seguem na luta pelo seu território. Para estes a terra é sagrada, sendo o lugar onde viveram seus antepassados. Ao contrário do agronegócio que utiliza a terra como mercadoria, a luta indígena é para sua sobrevivência, para que sua cultura e identidade mantenham-se vivas.



Vanessa Bueno Arruda

p/GEOLUTAS

         Matéria publicada originalmente em 28 de abril de 2015

                                        (http://questaoagrariapr.webs.com).

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NOTA DE REPÚDIO

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