O Movimento em Defesa dos Povos Indígenas - Oeste PR
realizou no dia 30 de novembro um importante ato no município de Marechal
Cândido Rondon para exigir do governo federal o início imediato do processo de
demarcação das terras indígenas.
Indígenas, estudantes, trabalhadores, professores e
militantes de diversas organizações “recepcionaram” a Ministra Chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann (PT) em Marechal Cândido Rondon, de forma diferente
daquela organizada por empresários e governantes municipais. Com faixas,
cartazes e palavras de ordem buscamos evidenciar que os povos indígenas no
Oeste do Paraná se encontram em uma triste realidade. O ato foi uma
demonstração que os indígenas não se calarão e não irão parar de lutar por seus
direitos. Afinal, Bernardino vive nos corações de todos aqueles que acreditam
que é possível e necessário uma sociedade na qual a terra não seja apenas mera
mercadoria.
BERNARDINO, Presente!
GEOLUTAS/AGB-Seção Local de Marechal Cândido Rondon.
Segue o
texto da carta.
CHEGA DE MORTES:
DEMARCAÇÃO DE TERRAS JÁ!
CHEGA DE MORTES:
DEMARCAÇÃO DE TERRAS JÁ!
BERNARDINO, PRESENTE!
SOMOS TODOS GUARANI!
Mesmo que a história oficial omita que o processo de colonização do
oeste do Paraná deu-se a partir do derramamento de sangue indígena, este fato
concreto ocorreu
desde o momento das reduções jesuíticas, e se intensificou nas fases
posteriores.
Para além
da história que não nos é contada, somente nos últimos dez anos ocorreram 560
assassinatos e 206 casos de suicídio de indígenas no Brasil (dados do Conselho
Indigenista Missionário– CIMI). Apesar dos índices serem alarmantes, estes
dados refletem apenas parte da triste realidade vivenciada cotidianamente pelos
povos indígenas na sua luta pelas condições de sobrevivência.
Atualmente,
a maior reivindicação nacional dos povos indígenas é a demarcação das terras
tradicionais, sendo que para eles o território assume uma conotação
cosmológica, que garante tanto a reprodução material, bem como a simbólica. Ou
seja, não existe cultura e vida indígena sem a garantia da territorialidade.
Porém,
isso tem sido dificultado principalmente pelo projeto agroexportador, que
incentiva a produção desenfreada em busca de lucro, tratando a terra como um
mero negócio, sem se preocupar com a natureza e com os povos que dependem dela
para coexistir.
Para
piorar, o Governo Federal, representado pela Ministra Gleisi Hoffmann (PT),
suspendeu o processo de demarcação de terras e desenvolve uma política de
enfraquecimento da FUNAI, além de buscar fortalecer as posições de órgãos
claramente comprometidos com o agronegócio e os ruralistas.
Dado esse
impasse, na região oeste do Paraná tem sido realizada uma campanha de
disseminação de ódio e mobilização contrária aos povos indígenas, incentivada
pelos defensores das oligarquias locais e as organizações ruralistas. Inclusive
boa parte dos deputados da região já se colocaram contrários à demarcação de
terras.
Como
resultado desses conflitos e a perda de territórios, a taxa de suicídio entre
os guaranis é 34 vezes maior que a média nacional. E na região oeste do Paraná
isso é acompanhado pelos casos de suicídio ocorridos em Guaíra. O que mais
assusta é que, durante uma campanha de conscientização sobre as causas
indígenas que realizamos neste ano, deparamo-nos até com crianças nas escolas
falando que “índio bom é índio morto”.
E, na
semana passada, o guarani Bernardino Dávalo Goularte foi assassinado. Na volta
de um jogo de futebol que ocorria em outra aldeia, um carro prata com três
pessoas dentro passou disparando várias vezes, atingindo Bernardino com três
tiros, além de uma das crianças que o acompanhava ter sido atingida de raspão
na cabeça, no braço e na perna. Esse fato ocorreu no centro da cidade. Em
visita às aldeias Tekohá Y’Hovy e Tekohá Mirim, as lideranças nos informaram
que várias ameaças já ocorreram desde o início do ano como forma de intimidar
os indígenas.
No
entanto, a mídia local fez pouco caso da situação e a trata como se fosse
resultado de uma briga de bar. Para nós, esse não é um caso isolado e merece
uma profunda investigação. Não podemos descartar a possibilidade de ter
ocorrido em função do conflito anunciado na região.
Diante
desta atrocidade cometida contra a vida Guarani, vimos manifestar nosso repúdio
e prestar nossa solidariedade. Os povos Guarani, que sempre estiveram presentes
na região do Guairá (margens do Rio Paraná), resistindo às atrocidades
cometidas pelo “homem civilizado”, mantém firmes a sua luta. E nós pretendemos
fortalecer esse movimento.
Solicitamos
publicamente uma rápida investigação para encontrar os assassinos e os
possíveis mandantes do crime e a subsequente punição.
Para
resolução do conflito, é necessária a retomada dos estudos para a demarcação. É
preciso defender a vida acima do lucro!
GLEISI HOFFMANN, NÃO SE PERMITA SUJAR AS MÃOS COM O SANGUE DOS INOCENTES
QUE BUSCAM VIVER EM HARMONIA COM A NATUREZA!
SOMOS TODOS GUARANI!
BERNARDINO, PRESENTE!
BASTA ÀS MORTES DE INDÍGENAS: PELA DEMARCAÇÃO DAS TERRAS TRADICIONAIS!
27 de novembro de 2013
MOVIMENTO EM DEFESA DOS POVOS
INDÍGENAS - OESTE PR
Organizações
que se solidarizam:
1. APP de
Luta e Pela Base – Oposição Alternativa
2. APP
Sindicato – Núcleo Sindical de Foz do Iguaçu
3.
Assembleia Nacional de Estudantes – Livre ANEL
4.
Associação dos Estudantes de São Pedro do Iguaçu – AESPI
5.
Associação dos Geógrafos Brasileiros AGB - Seção Local de Marechal Cândido
Rondon
6. Casa
da América Latina – Foz do Iguaçu
7.
Central Sindical e Popular CSP – Conlutas
8. Centro
Acadêmico de Biologia – Universidade Federal do Paraná/Palotina
9. Centro
Acadêmico de Ciências Sociais – Toledo
10.
Centro Acadêmico de Geografia – Marechal Cândido Rondon
11.
Centro Acadêmico de Geografia - Universidade Estadual de Londrina
12.
Centro Acadêmico de História – Marechal Cândido Rondon
13.
Centro Acadêmico de Serviço Social – Toledo
14.
Centro de Direitos Humanos CDH - Foz do Iguaçu
15.
Coletivo Movimente-se UEM – Universidade Estadual de Maringá
16.
Coletivo Resistência Socialista – CRS Toledo
17.
Diretório Central dos Estudantes da Unioeste – Foz do Iguaçu
18.
Diretório Central dos Estudantes da Unioeste – Marechal Cândido Rondon
19.
Diretório Central dos Estudantes da Unioeste – Toledo
20.
Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual de Londrina
21.
Geografia das Lutas no Campo e na Cidade GEOLUTAS – Marechal Candido Rondon
22. Grupo
de Estudos em Bioética GEB - UFPR Palotina
23. Grupo
de Estudos Marxianos Latino-Americano – Toledo
24. Grupo
Tortura Nunca Mais – Foz do Iguaçu
25.
INTERSINDICAL
26.
Levante Popular da Juventude
27.
Movimento Fronteira Zero – Foz do Iguaçu
28.
Movimento Juventude Consciente – Toledo
29.
Movimento Mulheres em Luta – MML
30.
Movimento Universidade Popular – Foz do Iguaçu
31.
Núcleo de Estudos sobre a Via Campesina e a Agroecologia NUEVA – Universidade
da Integração Latino-Americana UNILA
32.
Partido Comunista Brasileiro – PCB
33.
Partido Socialismo e Liberdade – PSOL
34.
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU
35.
Pastoral Operária Nacional
36. Rede
Megafone
37.
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná SINDJOR - Subseção Foz do
Iguaçu e Região
38. União
da Juventude Comunista - UJC
Matéria publicada originalmente em 02 de dezembro de 2013
(http://questaoagrariapr.webs.com).