* Texto originalmente postado em dezembro de 2013.
Por Janaina Stronzake, do
Grupo de Trabalho do Laboratório de Geografia Agrária – DGE/UEM
Quando se chega ao Centro Comunitário da COPAVI, um cartaz diz “você está em uma terra libertada”, e faz a gente sentir forte consciência do chão que pisamos. O cheiro bom de comida se junta ao chilreio de pássaros, vozes humanas, e o vento movendo folhas e cabelos. Senti isto há quatro meses, quando voltei a viver na Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória, a COPAVI, em Paranacity, noroeste do Paraná. Pus-me a pensar sobre a longevidade desta cooperativa, cujos objetivos apontam para além da sociedade burguesa, e a solidariedade de classe aparece como elemento fundamental.
Contrariando análises que apontariam a inviabilidade da reforma agrária, o êxodo rural e a agricultura sem agricultores/as como corolário do desenvolvimento, Ricardo Abramovay (2000) indica justamente o contrário; segundo ele, em países desenvolvidos, mais de um quarto da população ativa economicamente, está residindo no campo. No Brasil, “a década de 1990 registra um fenômeno inédito na história do país: o ritmo do êxodo rural desacelera-se de maneira nítida e, ao final dos anos 1990, já se registram tanto a migração de retorno em direção a pequenos municípios, como o crescimento da população rural em diversas regiões do País.” (Abramovay, 2000). Parte deste fenômeno, a COPAVI conta com uma juventude decidida a não sair do campo.
Estes jovens se sentem camponeses/as, que unem o trabalho manual e intelectual, embora alguns/algumas nos contam da resistência que têm ao trabalho intelectual, historicamente negado à classe trabalhadora. Um dos entrevistados, fala do que é ser camponês: “é ter pertença a uma classe, é ter pertença a um modo de vida. É acreditar e defender a vida e o cuidado da terra, lutando por ela, preservando, seja intelectualmente seja com as próprias mãos no chão. É enfrentar o agronegócio, ter compromisso com o povo do campo e com a classe trabalhadora”.
Caminhar pela COPAVI, 20 anos depois, é encher os olhos de futuro camponês, com o bosque produtivo, as vacas leiteiras, a horta, os pomares. É ver as contradições junto da paciência e energia para superá-las. Um cheiro de caldo de cana cozinhando acalenta o coração, dando esperança de que o ser humano pode sim transformar o mundo, para além de interpretá-lo. Para construir este sonho, somente com o compromisso solidário na luta de classes.
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Fonte das fotos: Acervo da COPAVI.