No último dia 22 de fevereiro de 2014 cerca de 600 agricultoras de Francisco Beltrão, atenderam ao chamado do Coletivo de Mulheres Agricultoras e se reuniram na Comunidade São Braz para celebrar o dia Internacional da Mulher (8 de março), este foi o 6º ano consecutivo da realização do evento que é marcado por um momento inicial de mística, em que é celebrada a caminhada das mulheres e em seguida é feito uma análise da conjuntura da sociedade com os resgates da participação política das mulheres e levantadas as suas principais bandeiras de luta: neste encontro além da Licença Maternidade de 6 meses para as agricultoras, teve destaque o projeto do resgate dos saberes do uso e cultivo de plantas medicinais, um clara luta das mulheres contra o domínio das indústrias químicas e de maior autonomia no seu cotidiano. A organização das mulheres agricultoras no Sudoeste do Paraná tem sido construída deste a década de 1970, primeiro com o Movimento Popular de Mulheres e na década de 1980, a partir da organização dos sindicatos de trabalhadores rurais.
A partir de movimentos políticos as mulheres se organizaram, enfrentaram e resistiram deste as forças externas as organizações da agricultura ou mesmo a lógica patriarcal dominante na agricultura, em especial a familiar e/ou camponesa. Desta resistência surgiu um movimento forte e intenso que procura tirar as mulheres do seu espaço privado (representado pelo roçado da produção de alimentos, da ordenha das vacas, da horta e das atividades domésticas) para um espaço público, no qual são discutidos os problemas da agricultura, desde produção, comercialização, etc. Independente da denominação que essas agricultoras recebem: “colonas”, “agricultoras familiares”, “camponesas”, “mulheres do interior”, elas representam um segmento da agricultura que sofrem, assim como os demais agricultores que buscam produzir a partir da agricultura a sua existência econômica, política e cultural, sofrem um processo constante de exploração e expropriação capitalista que cotidianamente os fragilizam. No entanto, as mulheres sofrem ainda do preconceito da organização patriarcal, que torna as mulheres subsumidas, submissas inclusive no que se referem as suas próprias condições de existências.
Essas mulheres que no Sudoeste do Paraná, reconhecido pelas conquistas e organizações populares camponesas e/ou familiares, se auto denominam agricultoras familiares, mas não se referindo a uma forma legal, institucional, mas ao cerne do termo familiar. Pois constroem sua base cotidiana e inclusive de organização política a partir da família e por vezes tem dificuldades de ampliar os questionamentos, uma vez que esta base familiar é construída em princípios religiosos que também submetem às mulheres (feitas da costela de Adão para lhe servir) a submissão.
Assim a organização das mulheres agricultoras do Sudoeste do Paraná, especialmente no que se refere ao Coletivo de Mulheres Agricultoras do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Francisco Beltrão, tem colocado em pauta e organizado um processo de luta que resultou em vitórias e conquistas femininas como a Aposentadoria para Mulheres Agricultora, o direito de ter documentação em seu próprio nome, a inclusão de seu nome no bloco de Produtor Rural, o Direito ao Salário Maternidade entre outras internas a organização político organizativa, sendo dirigentes sindicais e de cooperativas de produção da agricultura familiar e de comercialização. O direito a moradia e a efetivação do Programa de Habitação Rural tem sido uma conquista das mulheres, mas que precisa ainda ser amplamente discutido e refletido, pois o fato das mulheres quererem garantir uma moradia digna e confortável para sua família não representa que ela esteja reassumindo para si o papel da “Rainha do Lar”.
O encontro de 600 agricultoras é efetivamente um sinal de que as mulheres e também alguns homens compreendem que as mulheres precisam se emancipar, para além de ter um documento. É um passo político, é um momento em que as mulheres se reúnem e com um jeito alegre reafirmam que as conquistas somente ocorrerão a partir de um processo de luta e de organização. Juntas elas discutem o qual difícil é sair de suas casas e construir espaços renovados, dentro e fora de casa. Juntas estudam, discutem e propõe medidas que fomentam os sonhos, alicerçados em uma construção que tem por base a família, mas não aquela da aliança da subordinação, mas da emancipação e da liberdade.
8 DE MARÇO DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES – UM DIA DE LUTA PELA EQUIDADE DE GÊNERO.
Roselí Alves dos Santos – GETERR/UNIOESTE
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